Em abril deste ano escrevi aqui no InteliAgro um pequeno artigo abordando o uso eficiente de água e energia em culturas irrigadas. O objetivo deste artigo é aprofundar a discussão neste assunto, focando em dois pilares da irrigação: equipamentos e manejo.
Esta escolha não foi feita por acaso. Segundo o Plano Nacional de Recursos Hídricos, o aproveitamento médio da água destinada a irrigação no país é de 64% e os outros 36% da água é perdida por problemas na infraestrutura hidráulica.
O custo energético da operação da irrigação pode alcançar 35% do valor total de produção. No mundo, a razão entre a quantidade de água efetivamente usada pela cultura e a quantidade retirada da fonte situa-se em torno de 37 %. Segundo alguns autores, o manejo racional da irrigação pode promover uma economia aproximada de 20% da água e de 30% da energia, sendo que neste último, 20% correspondem a economia de não haver aplicação excessiva de água e 10% ao dimensionamento e otimização dos equipamentos.
O termo eficiência é geralmente associado ao resultado obtido na transformação de um determinado recurso aplicado inicialmente. Na produção agrícola, assim como em qualquer outra atividade econômica saudável, procura-se o maior retorno financeiro a partir de cada unidade de recurso aplicado. É com esse tipo de eficiência que eu gosto de lidar no meu dia-a-dia e espero que o leitor nunca deixe este mote de lado. Obviamente temos que fazer o melhor com os recursos que temos disponíveis e sei que cada produtor e propriedade possuem características únicas, o que me afasta da tentação de querer lhe recomendar uma receita de sucesso pré-fabricada, todavia fico feliz em apresentar alguns conceitos que permitirão você refletir sobre o assunto.
O conceito de capacidade de água disponível no solo por muito tempo tem servido como critério para o manejo da irrigação, todavia suas limitações devem ser entendidas. A visão clássica do assunto, concebida na década de 1920, é a de que a água no solo está igualmente disponível para as plantas nas suas respectivas zonas radiculares, variando de um limite superior chamado de “capacidade de campo” até um limite inferior chamado de “ponto de murcha permanente” (PMP), sendo ambas consideradas características únicas e constantes de cada solo, independente da cultura ou clima. Este postulado pressupõe que as funções fisiológicas da planta permaneçam praticamente inalteradas por qualquer diminuição da quantidade de água disponível no solo até que o ponto de murcha permanente é atingido, fazendo com que a planta cesse abruptamente sua atividade fisiológica. Posteriormente foi verificado que a produtividade da planta acompanha diretamente a queda da umidade do solo, tornando ela suscetível a sofrer estresses hídricos e enormes quedas de produção antes de atingir o PMP.
A questão do que constitui a quantidade desejável de água para uma cultura é matéria de controvérsia, sendo que há três abordagens interessantes:
(1) Os agrônomos estão frequentemente interessados em obter a maior produção por unidade de área cultivada;
(2) Atingir a maior produção por unidade de água aplicada;
(3) Como os economistas gostam de sugerir, a água somente deve ser aplicada até o ponto em que o lucro derivado do último incremento de água supere o valor necessário para concretizar esta aplicação.
Conforme já deixei explicito no início, eu tenho tendência em dar prioridade para a visão dos economistas, mas negligenciar as outras significa correr sérios riscos. Fisiologicamente, o vegetal tem necessidades hídricas diferentes nos diversos estágios do seu desenvolvimento e algumas culturas necessitam sofrer estresse hídrico para forçar e uniformizar a floração. Desta feita, algumas vezes temos que tomar decisões pontuais antieconômicas a fim de garantir o sucesso no final na colheita.
Existem diversas maneiras de saber quando e quanto irrigar, todavia a flexibilidade para tomar a ação é fundamental para o manejo eficiente da irrigação. Uma das maneiras para saber o momento certo de irrigar que atenda este requisito é monitorando a água no solo, seja pela umidade do mesmo ou pela tensão necessária para a planta extrair a água. Outra maneira é efetuar o balanço hídrico do solo utilizando informações meteorológicas para calcular a evapotranspiração de referência (ETo) do local e reposições efetuadas pela chuva.
De qualquer forma, é necessário que responsável pelo gerenciamento do sistema tenha tido algum treinamento técnico para efetuar o manejo correto da irrigação e das ferramentas de planejamento. Já é comum os fabricantes de equipamentos fornecerem cursos de treinamento para os funcionários e gestores de seus clientes, como parte de uma estratégia de oferecer serviços diferenciados em um mercado cada vez mais competitivo e inovador.
Para obter o melhor resultado na otimização da irrigação, visando a economia de água e energia e o aumento da produtividade é necessário ir além de tabelas escritas a mão. A startup da qual sou sócio fundador (HECTARE) está desenvolvendo um sistema de otimização que coleta automaticamente e em tempo real diversas informações relativas ao cultivo e é capaz de produzir recomendações de irrigação de altíssima confiabilidade e de fácil entendimento ao produtor.
Outro elo importante em tornar a irrigação eficiente está na escolha e manutenção dos equipamentos. Para quem irá implantar, além de escolher o sistema mais adequado para a cultura, é imprescindível que ele atenda às necessidades de irrigação nas condições mais extremas, mas tendo o cuidado para não superdimensionar o projeto, o que trará custos de implantação e operação desnecessários. Para quem já o tem, é necessário conhecer muito bem as rotinas de operação do equipamento e efetuar todas manutenções necessárias, colhendo os frutos de uma vida útil maior do sistema.
Finalmente, como teria dito Alfred Deakin (que foi Primeiro Ministro da Austrália no início do século passado e responsável por estabelecer a irrigação em seu país):
– “Não é a quantidade de água aplicada a uma cultura e sim a quantidade de inteligência à ela aplicada que determina o resultado – é muito mais devido a inteligência do que a água em todos os casos.”
Definitivamente eu concordo com ele.
Se você se interessa pelo assunto, me escreva!
[…] na hora de você coloca-lo em prática. Se você não faz ideia do que estou falando, veja nosso artigo sobre o […]
Parabéns pelo site. Estou em vias de montar uma fazenda de uns 2 hectares de olivas em Portugal, ou em Castelo Branco ou no Alentejo. São regiões diferentes qto a oferta hídrica. Vc tem algum contato por lá?
Obrigado.