Finalmente chegamos ao final de nossa triologia sobre o “Efeito Chicote”. Já tratamos sobre ‘o que é’, ‘de onde vem’ e hoje trataremos sobre ‘o que ele causa’. Uma abordagem simplificada para lhe convencer, de uma vez por todas, a fugir das chicotadas dolorosas deste fenômeno.
Ao observarmos os valores de nível de estoque em cada participante da nossa cadeia de suprimentos hipotética (veja post “Setor de compras funciona à base do chicote“), observamos não só números absolutos relativamente altos, mas também flutuações abruptas. Se você já trabalha com logística, deve entender no que esses dois comportamentos implicam:
Valores de estoques absolutos elevados
O raciocínio é simples: grandes volumes de estoques precisam de grande área de armazenagem. E área de armazenagem custa dinheiro. Isso por que não estamos falando de um mero espaço físico onde objetos são amontoados feito uma pilha de pedras (Ok…isso acontece muitas vezes… mas não é correto!). Falamos muitas vezes de um galpão de piso em alvenaria, estruturas porta-pallet, empilhadeiras, energia elétrica, circuitos CFTV, transporte interno, conferência, picking, WMS, e claro, pessoas para operarem cada um desses elementos.
A armazenagem é onerada ainda mais no caso de necessidades especiais dos produtos: câmaras climatizadas, refrigeradas ou de congelamento – caso onde o transporte também é diferenciado, portas corta-fogo (você nem imagina como são caras…), telas de segregação, segurança reforçada, distância mínima de outros tipos de produtos, entre outras.
Variações abruptas dos níveis de estoque
Uma vez definidas as necessidades operacionais e estruturais de armazenagem de um produto, é preciso dimensionar a operação. Não é difícil entender que quanto mais linear o volume de estoque, mais fácil quantificar cada elemento citado anteriormente. Quando há grande variação desse volume, duas situações podem ocorrer:
Superdimensionamento da operação: mão de obra, espaço e insumos ficam ociosos; os custos fixos se mantêm; a margem de ganho despenca.
Subdimensionamento da operação: mão de obra e insumos insuficientes para rodar a operação, causando sobrecarga e ‘correria’, aumentando as chances de ocorrências de erros e acidentes. Quanto ao espaço insuficiente – no caso de ser uma área alugada ou contratada de um operador logístico – pode ser cobrada a armazenagem “spot”, ou temporária, onde os preços são mais caros devido à urgência e uso de área não contratada previamente. Os efeitos de sub ou superdimensionamento podem ser aplicados também ao transporte.
As chicotadas doem em outros lugares: o relacionamento entre fornecedores e clientes se desgasta devido ao estresse, a eficiência global da rede de suprimentos cai, os consumidores são afetados com eventuais faltas de produtos e serviços. As cicatrizes também surgem: perda de clientes, problemas financeiros, gerentes logísticos descabelados.
É evidente que o cuidado no planejamento e a qualidade da informação em sua plenitude são grandes proteções contra o “bullwhip effect“. Lembre-se que o açoite dói não só em quem leva, mas também quem dá as chicotadas – se seu fornecedor tem problemas, você está em apuros! Então seja bonzinho e pense muito bem antes de usar um chicote em alguém!